quinta-feira, 7 de março de 2013


Países rejeitam proibição do comércio de ursos polares

Espécie pode sofrer perda de dois terços da população até 2050

Ursos polares Uslada e Menshikov caminham pela área destinada a eles no zoológico de São Petersburgo, na Rússia Foto: Reuters
Os países membros da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas (CITES) se negaram nesta quinta-feira a proibir o comércio mundial de ursos polares, em uma reunião realizada em Bangcoc.
Apesar de todos os participantes terem reconhecido que o urso branco é vítima do aquecimento global, também aconteceu um intenso debate sobre a ameaça adicional que, para muitos, representa o comércio da pele, ossos e dentes do animal. O maior carnívoro terrestre está inscrito no Anexo II da CITES, o que significa uma regulamentação rígida do comércio internacional, mas sem proibição.
Os Estados Unidos, que compartilham com Canadá, Rússia, Groenlândia e Noruega uma população de 20.000 a 25.000 exemplares, desejavam a inscrição no Anexo I, o que significaria uma proibição do comércio. Mas a proposta, que precisava da maioria de dois terços para aprovação, foi rejeitada com 42 votos contrários, 38 favoráveis e 46 abstenções, entre os 126 países participantes na votação.
O urso polar enfrenta um futuro sinistro e o dia de hoje trouxe mais uma notícia ruim
Dan Ashediretor do serviço americano de pesca e vida selvagem
"O urso polar enfrenta um futuro sinistro e o dia de hoje trouxe mais uma notícia ruim", lamentou Dan Ashe, diretor do serviço americano de pesca e vida selvagem. A espécie pode sofrer uma perda de dois terços da população até 2050.
Segundo analistas citados pelos representantes dos Estados Unidos, quase metade dos 800 ursos brancos mortos a cada ano alimentam o mercado internacional.
A Rússia e diversas organizações militantes, que acolheram os delegados com ursos de pelúcia, também apoiavam o embargo. Os russos estimam que o forte aumento dos preços, de até US$ 50 mil por uma pele de urso na Rússia, alimenta a caça ilegal.
Estudantes protestam contra comércio de espécies ameaçadas antes da abertura do CITES, em Bangcoc, no último domingo Foto: Reuters
Estudantes protestam contra comércio de espécies ameaçadas antes da abertura do CITES, em Bangcoc, no último domingo
Foto: Reuters
No entanto, nem a secretaria da CITES, nem algumas grandes organizações, como Traffic e WWF, apoiaram a iniciativa americana.
"A diminuição do habitat devido ao aquecimento climático, e não o comércio internacional, é a primeira razão do declínio antecipado da população" de ursos polares, sustentou a WWF.
O Canadá, que possui a maior população de ursos polares do mundo e único exportador, também se opôs firmemente.
"O urso polar provoca muita emoção, é um ícone do Ártico", reconheceu seu representante, Basile Van Havre. "O Canadá (...) se comprometeu com a proteção da espécie, mas isso não quer dizer que a emoção deva guiar" as decisões.
O urso polar provoca muita emoção, é um ícone do Ártico (...), mas isso não quer dizer que a emoção deva guiar as decisões
Basile Van Havrerepresentante do Canadá
A lógica canadense está fortemente influenciada pelos inuit, minoria autóctone que vive no norte do país, que enviou vários representantes à reunião em Bangcoc.
Uma eventual proibição "afetaria a sustentabilidade de nossas comunidades nas próximas gerações", declarou Tagak Curley, membro da assembleia do território de Nunavut, antes da votação.
Há 40 anos, graças a uma gestão moderna, o número de ursos polares duplicou no Canadá, insistiu o representante, que fez valer a relação única entre seu povo e o animal. Por sua vez, a conferência retirou seis espécies australianas do Anexo I, pelo fato de já terem desaparecido.
O caso mais emblemático é o do tigre da Tasmânia. A espécie foi massacrada pelos fazendeiros, que acusavam estes animais de matar seu gado. O último exemplar conhecido, capturado em 1933, morreu em 1936 em um zoológico de Hobart.

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